quinta-feira, 10 de julho de 2008

COOPERAÇÕES SÃO FUNDAMENTAIS... AS PLANTAS USARAM OS ANIMAIS!!

Anacronismo ecológico
Meios alternativos ajudam plantas a resistir à extinção dos dispersores de suas sementes
Plantas das regiões tropicais do continente americano que dependiam de megafauna (grandes mamíferos, com mais de uma tonelada) para dispersar suas sementes conseguiram sobreviver à extinção desses animais graças a meios alternativos de dispersão. Essa foi a conclusão de um trabalho realizado por pesquisadores do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Estação Biológica de Doñana, em Sevilha (Espanha).
Os cientistas identificaram 103 plantas brasileiras cujos frutos possuíam as mesmas características dos de vegetais africanos que ainda são dispersos pela megafauna, como rinocerontes e elefantes. Essas espécies teriam sobrevivido graças a roedores estocadores, gado, enchentes e humanos, que ocupariam o lugar dos grandes animais. Os resultados do trabalho foram publicados na revista científica digital PLoS One. A idéia desse anacronismo ecológico já havia sido proposta em um artigo de 1982, publicado na revista científica norte-americana Science. “O problema é que o trabalho não definiu com precisão o que seria um fruto de megafauna. Havia muitas categorias, o que tornava difícil o estudo”, conta o biólogo Paulo Roberto Guimarães Jr., do Departamento de Física da Matéria Condensada do IFGW. Por isso, os autores, além de estudar o problema da dispersão, criaram uma definição operacional de fruto de megafauna para facilitar futuros trabalhos. Partindo das análises de frutos de elefantes descritas no artigo de 1982 e do estudo do consumo de frutos por esses animais, Guimarães Jr. e seus colegas definiram dois tipos de frutos: aqueles com 4 cm a 10 cm de diâmetro e contendo até cinco sementes grandes; e os que contêm várias sementes menores e possuem um diâmetro maior que 10 cm. “De posse dessas definições, selecionamos os livros que listam as espécies brasileiras e encontramos 103 com essas características”, acrescenta o biólogo. Depois, os pesquisadores compararam essas plantas com outras existentes que não são dispersas principalmente pela megafauna e identificaram mais algumas características. “Os frutos anacrônicos se concentram em algumas famílias, como a Sapotaceae, Fabaceae e a Malvaceae, e têm um padrão de cores distinto dos demais”, informa Guimarães Jr. Manutenção ou diminuição? Segundo o biólogo, as plantas com frutos voltados para megafauna conseguem contornar o dilema biológico da produção de sementes. “Há duas estratégias possíveis, dada a massa que um animal pequeno ou de médio porte pode carregar: muitas sementes pequenas, ou poucas grandes”, esclarece. A primeira estratégia aumenta a chance de dispersão espacial, mas compromete a capacidade da semente de se desenvolver, sendo ideal para ambientes ricos em recursos, como um campo aberto. Já na segunda alternativa, o investimento é para garantir o desenvolvimento, o que é bom para locais mais pobres, como áreas que não recebem muita luz. “Animais de grande porte podem carregar e dispersar quantidades muito maiores e mesmo quando uma dessas plantas usa a primeira estratégia, ela produz sementes que têm um tamanho maior que as de outros vegetais, ganhando assim uma vantagem competitiva”, observa Guimarães Jr. Para os pesquisadores, quando a megafauna americana se extinguiu, as plantas foram mantidas por animais que se alimentavam ocasionalmente de seus frutos ou coletavam e estocavam suas sementes, como no caso da cutia e do jatobá. Outros fatores, como enchentes ou uma reprodução vegetativa agressiva, na qual uma parte do vegetal, como um galho, é capaz de dar origem a um novo organismo, também garantiram a preservação da espécie. “Algumas simulações que conduzimos em computador demonstram que eventos raros – por exemplo, um carcará levar as sementes para outro lugar – permitiriam à população se manter ou reduzir o ritmo de seu desaparecimento”, revela o biólogo. Como o tempo que se passou desde o desaparecimento da megafauna é pequeno em termos ecológicos – alguns milhares de anos –, os autores não podem afirmar se as populações dessas plantas são estáveis ou se estão diminuindo. No entanto, eles detectaram os efeitos que a extinção de dispersores pode causar: concentração de indivíduos em poucas áreas geográficas e maior diferença genética entre estes e indivíduos da mesma espécie de outros locais. “Ainda estamos estudando essa questão e devemos aprofundar nossas pesquisas na mata atlântica e no Pantanal, regiões onde esse tipo de planta varia na sua importância relativa, constituindo 13% e 30%, respectivamente, das espécies de árvores e arbustos desses ambientes”, conclui Guimarães Jr.
do origina de Fred Furtado Ciência Hoje/RJ em:http://cienciahoje.uol.com.br/121574
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